Agronegócio deve ser o principal setor a ser beneficiado com o crescimento das exportações para o país asiático
A reabertura da China, fechada há três anos devido à pandemia de Covid-19, está marcada para este domingo (8) e deve afetar a economia brasileira. Isso porque o país asiático é o maior parceiro comercial do Brasil, acima dos Estados Unidos e da União Europeia.
A partir de hoje, o governo alivia oficialmente a rígida política da ‘Covid zero’ e, com isso, deixa de exigir quarentena obrigatória para os viajantes mesmo com a escalada de casos da doença respiratória observada nas últimas semanas.
O economista João Matos, professor de economia do Mackenzie Rio, afirma que a China, em termos de corrente de comércio, equivale aos Estados Unidos e União Europeia somados, tamanha a importância do gigante asiático.
Corrente de comércio, ele explica, é a soma das importações e exportações de um país para o outro, ou seja, o total do comércio entre os países.
Em 2021, essa soma entre China e Brasil bateu o recorde de US$ 135,4 bilhões (R$ 710,8 bilhões) e o superávit brasileiro chegou a US$ 40 bilhões (R$ 210 bilhões), de acordo com o Ministério da Economia.
Por isso, a retomada da economia da China deve favorecer a brasileira e criar uma espécie de “ciclo virtuoso”, já que o comércio cresce e impulsiona o PIB (Produto Interno Bruno), soma de tudo que é produzido e dos serviços do país, que volta a fazer com que o comércio cresça, avalia o professor.
Esse ciclo deve afetar principalmente o setor do agronegócio. “Basicamente, a parte da cultura da soja, seguido do setor de proteínas, como a carne suína e carne bovina. Além disso, também açúcar, algodão e celulose ocupam um papel preponderante no nosso conjunto de exportações para a China”, explica o professor.
Em 2022, o Brasil exportou 52,4 milhões de toneladas de soja para o país asiático e a perspectiva é de crescimento desse número na safra de 2023.
Esse aumento, porém, deve ser diferente daquele observado no começo da década de 2000, quando houve o boom das commodities, que alavancou o Brasil e ajudou o país a se tornar a 6ª maior economia do mundo em 2011.
Isso porque as condições não são as mesmas de antes e “não se tem um cenário tão favorável como naquela época”, diz Matos. As crises políticas tornam um pouco instável o cenário internacional.
Além da Guerra da Ucrânia, também há tensões no Sudeste Asiático, disputas pelo território de Taiwan e toda a situação envolvendo a Coreia do Norte, que voltou a fazer manobras militares na região.
Por fim, ainda há a própria pandemia, situação que, de acordo com o diretor de alocação e distribuição da InvestSmart XP André Meirelles, deve ser observada, já que “a brusca mudança na política de combate à Covid-19, sem um ciclo de vacinação adequado, levou o país a enfrentar novamente um pico de infecções, o que pode significar, a curto prazo, um novo desarranjo nas cadeias globais de produção, podendo pressionar novamente a inflação global, além de elevar o risco de novas variantes da doença”.
Para Mereilles, para o Brasil de fato se beneficiar da retomada da China, “é necessário avaliar se a medida virá acompanhada de maneiras mais eficazes de combate à Covid-19, o que ainda não foi claramente divulgado pelas autoridades do país”.
R7