Os planos de Zé Dirceu e o que esperar da esquerda em 2023

Politica

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José Dirceu, ex-ministro do governo petista que foi condenado por corrupção e formação de quadrilha, publicou recentemente um artigo no site Poder 360, em que relata suas esperanças de retomada do poder pela esquerda em 2023. Ele acredita no retorno do PT, assim como tem a confiança de estar vendo, na América Latina, um processo de retomada por parte de governos de esquerda. Não temos motivos para duvidar de sua análise.

José Dirceu foi condenado em 1ª Instância na Lava Jato a 32 anos e 1 mês de prisão. Aguarda em Brasília a decisão do TRF-4, tribunal de 2ª Instância da Justiça Federal, sobre condenações já proferidas pelo então juiz Sérgio Moro na 1ª Instância. Mas a sua atuação política nunca parou e seus conselhos nunca foram ignorados pela esquerda. Dirceu é o verdadeiro guru da esquerda nacional.

O petista está longe de ser um político qualquer, um corrupto típico da classe política. Ao contrário, como uma das vozes estratégicas mais ouvidas e lidas pela elite da esquerda brasileira, o ex-guerrilheiro recebeu treinamento em Cuba e trabalhou como agente para Fidel Castro. Além disso, trabalhou ativamente na estrutura petista e foi o grande responsável pela subida ao poder do partido.

Como sabemos que na época da luta armada a deserção era punida com a morte, o que imaginamos que tenha se mantido, não temos motivos para achar que Dirceu tenha sido “reduzido” a um político palpiteiro qualquer, tampouco seremos ingênuos de acreditar na narrativa da “redemocratização”. Ele trabalhou junto da elite esquerdista para a construção do Foro de São Paulo, presidido e fundado oficialmente por Lula e Fidel, em 1990, com a declarada intenção de retomar os espaços comunistas perdidos no Leste Europeu daquela época.

Diz-se que Dirceu era o dono da “máquina de dossiês” que derrubou, um a um, os políticos que poderiam resistir ao assédio petista nos anos 1990. Não é à toa que, quando chegou ao poder, Lula pôs Dirceu em um cargo de alta confiança.

Agora, após condenado por corrupção e formação de quadrilha, Dirceu cumpre uma pena em liberdade e diz que se o PT voltar ao poder, o Brasil deverá “estender a mão novamente” à ditadura cubana. Recentemente, defendeu uma maior clareza na proposta da esquerda: “somos petistas, de esquerda e socialistas”, disse com o punho cerrado em um vídeo recente no qual defendia um discurso sem atenuantes democráticos, com clareza doutrinária da ortodoxia de esquerda.

No artigo publicado na última semana, Dirceu disse que “não há e não haverá democracia com os militares na política”. Dirceu quer “redefinir o papel das Forças Armadas na Constituição” e considera o atual cenário político o momento ideal para isso.

O ex-ministro e “ex-agente” cubano diz que a decisão do comandante do Exército de não punir o General Pazuello é uma violação do Regulamento Disciplinar e gerou uma crise institucional no meio militar. Dirceu acredita que essa crise é uma oportunidade para retirar das Forças Armadas o poder moderador ou de árbitro da nação.

Zé Dirceu se queixa da atuação das Forças Armadas nos anos 60 ao impedir um golpe comunista no país e descreve o que precisa ser feito para tirar os militares do caminho durante a retomada política da esquerda na América Latina.

Em primeiro lugar, considera o afastamento total dos militares da política e das funções públicas, o abandono das Garantias da Lei e da Ordem (GLOs) e a alteração da Constituição para tirar dos militares a tutela sobre o governo civil. Dirceu também quer modificar os currículos militares inserindo um “caráter mais científico, pluralista, democrático e laico, sem discriminação e sem preconceitos”.

O ex-ministro quer uma força militar submetida à Presidência da República e ao Congresso Nacional sem poderes de intervenção e fixada sobre os seguintes princípios, uma espécie de milícia a exemplo das ditaduras comunistas: “independência nacional, prevalência dos direitos humanos, autodeterminação dos povos, igualdade entre os Estados, defesa da paz, solução pacífica dos conflitos, repúdio ao terrorismo e ao racismo, cooperação entre os povos para o progresso da humanidade e concessão de asilo político”.

No final do mês passado, Dirceu participou de uma live no YouTube onde declarou que com a eventual vitória da esquerda nas próximas eleições, o Brasil deverá “estender novamente a mão” à ditadura cubana.

“As vitórias eleitorais no México, na Argentina, na Bolívia, espero agora no Peru, o empate no Uruguai e no Equador, as rebeliões no Chile, no Equador, na Colômbia, na Bolívia mostram que está na ordem do dia, de novo, e creio que com a vitória nossa aqui no Brasil, a integração. Espero podermos, a partir de 23, estender de novo a mão para o povo cubano”, disse.

Dirceu citou o programa Mais Médicos como exemplo de cooperação com a ditadura cubana.

A ONU recebeu inúmeras denúncias de ‘trabalho forçado’ de médicos enviados por Cuba e, em reportagem de 2015, a Rede Bandeirantes desmascarou o sistema criado pelo governo petista em cooperação com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) para beneficiar financeiramente a ditadura cubana.

A retomada da esquerda pode ocorrer principalmente pela leniência e apatia da direita ao se dedicar única e exclusivamente a temas econômicos, articulação política e fisiologismo. O PT só utilizou essas barganhas como discurso e meios práticos, sem jamais depositar nisso a esperança de manutenção do poder. Tampouco a ocupação de espaços, tão avidamente promovida pelo PT, teria sido possível sem uma clareza doutrinária e um processo bem mais amplo de domínio sobre esferas culturais e artísticas, que delineavam às classes média e à mídia, um programa sutil baseado em simpatias ideológicas e sonhos utópicos romantizados. Mas nada, absolutamente nada, teria sido feito pelo PT (nem mesmo o seu quase certo retorno) sem o domínio cultural das universidades, que domina ainda por meio de hábitos, amizades e uma densa rede de projetos financiados internacionalmente.

Quando Dirceu falou em tomar o poder, “o que é diferente de vencer a eleição”, era a essa força brutal da hegemonia que ele se referia. A esquerda sempre soube sequestrar as classes falantes a seu favor, de maneira que até mesmo com um governo conservador essa força permanece intacta, inabalável e, na verdade, ainda mais atuante e fortalecida por uma situação de resistência que é confortável ao discurso da esquerda.

Jornal da Cidade

 

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