Análise: Lula, o maior cabo eleitoral de Bolsonaro

A POLÍTICA COMO ELA É

Declarações do ex-presidente Lula estão mais para 'sincericídios' do que para campanha eleitoral

As últimas declarações do ex-presidente Lula estão mais para “sincericídios” do que para pré-campanha eleitoral. Ao falar de improviso, sem poder ler textos meticulosamente escritos por um time de assessores de imprensa ou, ainda, sem contar com as frases de efeito produzidas por publicitários pagos a peso de ouro, o candidato — que, segundo Geraldo Alckmin, tenta se reeleger para voltar à “cena do crime” — tem irritado até mesmo seus eleitores.

Em um curto período de tempo, Lula classificou as pautas de família e valores como “atrasadas” e “retrógradas”; atiçou sindicalistas a irem à casa de deputados para “incomodar” e “constranger” tanto os parlamentares quanto seus familiares; defendeu o aborto de forma irrestrita; apoiou o aumento de impostos; afirmou enfaticamente que resolveria a guerra entre Rússia e Ucrânia em um boteco tomando uma série de cervejas; e, de quebra, criticou a classe média brasileira por querer possuir mais que o necessário para “sobreviver”, além de sugerir a limitação do consumo para que as pessoas não comprem “barcos de US$ 400 milhões”.

A respeito das declarações desastrosas sobre a classe média, ditas expressamente em uma reunião na Fundação Perseu Abramo, reduto do PT — e que deixaram até os petistas perplexos —, Lula tenta desmentir a si mesmo, alegando se tratar de fake news produzida por seu maior adversário político, o presidente Jair Bolsonaro, que também concorrerá à reeleição e que parece contar com Lula como seu maior cabo eleitoral.

Além da habitual estratégia de mencionar qualquer número que lhe venha à cabeça como se fosse uma estatística oficial e de dizer uma sandice hoje e tentar amenizá-la amanhã, agora Lula lança mão de uma nova técnica: declarar como “fake news alheia” o que ele mesmo disse.

E, como sempre, “a alma mais honesta deste país” vem fazendo escola, pois seu candidato a vice, apelidado carinhosamente de “picolé de chuchu”, também criou um novo critério: a “ex-fake news”. A nova modalidade pode ser constatada em uma declaração pública, feita por ele mesmo, em um vídeo cuja transcrição está a seguir: “Olha, quero fazer aqui um desmentido de uma ‘fake news’ que ‘tá’ circulando aí, dizendo que o PSDB, o nosso partido, que eu poderia no segundo turno apoiar o PT. Isto não existe. Nós somos contra o PT, como também somos contra o Bolsonaro. Achamos que o Brasil só perde com esses radicalismos. Eu peço a vocês que divulguem bastante para desmentir essa ‘fake news’ que ‘tá’ circulando.” Alckmin, Geraldo.

Não custa nada atender ao pedido do ex-inimigo e atual companheiro de Lula e divulgar bastante o desmentido de algo que nem era mentira, mas que agora se trata de uma “ex-fake news”.

PORTAL R7

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