“Vão perder a eleição no primeiro turno”, diz Leão

Política Baiana

Foto: Reprodução

Por Guilherme Reis, Henrique Brinco e Paulo Roberto Sampaio.

O vice-governador João Leão (PP) parece ter ativado a sua metralhadora giratória após romper com o grupo do governador Rui Costa (PP). O veterano da política baiana foi o principal assunto na semana passada, quando anunciou que ele e o Progressistas iriam marchar ao lado do pré-candidato ao Governo da Bahia, ACM Neto (UB). Na chapa, o cacique vai tentar a vaga ao Senado. Em entrevista à Tribuna, ele afirma que os ex-aliados erraram em tudo, a começar pela montagem da chapa. “Como você tem um candidato tão forte como o Rui Costa e você não coloca Rui para ser senador? Para ajudar essa chapa? Hoje Neto é fortíssimo. Neto, você chega nas pesquisas, ele tem 52%. Hoje Neto ganha essa eleição no primeiro turno. E como nós saímos [da base] e nos juntamos [com Neto], aí consagrou”, ressaltou. Ele afirma também que os principais projetos dos governos Rui foram capitaneados por ele. “Nesses quatorze anos, eu lutei pela Bahia. A Ferrovia de Integração Oeste-Leste é um projeto de João Leão. A Ponte Salvador-Itaparica é um projeto de João Leão. O desenvolvimento econômico da região Oeste da Bahia é um projeto de João Leão. Dei tudo de mim para a mineração da Bahia. […] A Bahia vai ter um ‘boom’ na área de mineração. Os projetos de infraestrutura da Bahia, todos nasceram de João Leão”, exalta. Ainda na entrevista, Leão fala sobre as relações de proximidade com os dois principais antagonistas da cena política atual (Lula e Bolsonaro), ressalta a amizade com Otto Alencar e faz projeções para a eleição de 2022.

Tribuna – Existe chance da sua parte de haver alguma aproximação com o ex-presidente Lula nessas eleições, apesar de como vai se desenhar o cenário?
João Leão – Eu disse isso aí, mas parece que isso gerou muito ciúme, ciúme besta, muito ciúme idiota. Eu agora estou seguindo a minha campanha aqui do Neto. Vou fazer a campanha junto com o Neto. E junto com o Neto nós vamos fazer a minha campanha para ser senador, a do Neto a campanha dele para governador e aí nós vamos caminhar para frente. São ciúmes dos donos de Lula.

Tribuna – O senhor recebeu alguma mensagem? Alguém lhe procurou para reclamar sobre as suas declarações?
João Leão – Não, mas eu vejo o pessoal dissertando, dizendo que ‘Lula é não sei o quê lá’, ‘Lula é de Jerônimo e de Otto Alencar’. Então deixa eles tomarem conta de Lula. Eu vou tomar conta do povo da Bahia.

Tribuna – De qualquer forma o senhor tem uma boa relação com o Lula, o senhor foi líder do governo… Então isso não se apaga, né?
João Leão – Lógico, lógico. Eu tenho todo o interesse em ajudar Lula. Também não sou inimigo de Bolsonaro não, viu? Ao contrário, sou amigo.

Tribuna – E por falar nessa amizade com Bolsonaro, ela poderia se estender ao campo da política nestas eleições?
João Leão –  É difícil, rapaz, é difícil… Depende muito. Eu quero caminhar pela Bahia. Meu partido é a Bahia.

Tribuna – Qual vai ser o tom da campanha para Senado? O senhor vai competir com o Otto Alencar, que sempre foi seu aliado também ao longo desses anos…
João Leão – É um amigo. Ele faz a campanha dele, eu faço a minha, não toco nem o nome de Otto. Não tem o porquê ficar falando mal de Otto. Não quero falar mal de ninguém. Eu quero dizer ao povo da Bahia o que é que eu vou fazer como senador.

Tribuna – Por falar nisso, quais são os seus planos para o Senado?
João Leão – Meu negócio é ajudar a Bahia. A Bahia é um dos estados mais ricos da federação. Nós temos amplas condições de você ter um estado de ponta. São Paulo se segure, porque a Bahia tem amplas condições. E quero ajudá-lo, o ACM Neto, como governador. Seja com Lula ou Bolsonaro presidente, quero ajudar a Bahia.

Tribuna – O senhor acha que os baianos clamam por alguma renovação, considerando o tempo longevo de governos do PT?
João Leão – Não vejo isso tanto desta maneira. Agora o problema é o seguinte: é a maneira que se construiu uma coisa, né? Eu vejo que eles erraram tanto, que eles vão perder a eleição no primeiro turno.

Tribuna – No que que o senhor acha que eles mais erraram?
João Leão – Em tudo. Na confecção da chapa… Como você tem um candidato tão forte como o Rui Costa e você não coloca Rui para ser senador? Para ajudar essa chapa? Hoje Neto é fortíssimo. Neto, você chega nas pesquisas, ele tem 52%. Hoje Neto ganha essa eleição no primeiro turno. E como nós saímos [da base] e nos juntamos [com Neto], aí consagrou.

Tribuna – O senhor se sentiu desprestigiado, considerando toda ajuda que o senhor deu ao governo ao longo desses anos?
João Leão – Não, não. Nunca pedi para ser prestigiado. Eu tinha um acordo, uma bandeira de convivência com o PT, [durante] quatorze anos… E nesses quatorze anos, eu lutei pela Bahia. A Ferrovia de Integração Oeste-Leste é um projeto de João Leão. A Ponte Salvador-Itaparica é um projeto de João Leão. O desenvolvimento econômico da região Oeste da Bahia é um projeto de João Leão. Dei tudo de mim para a mineração da Bahia. A Bahia pulou de sétimo para terceiro em recebimento de royalties. E vamos pular para segundo, quando começarem as novas jazidas que descobrimos na região de Caetité. A Bahia vai ter um ‘boom’ na área de mineração. Os projetos de infraestrutura da Bahia, todos nasceram de João Leão.

Tribuna – Por falar nisso, na sua avaliação, qual foi o principal acerto e o principal erro,  dos pontos de vista político e administrativo, do governador Rui Costa?
João Leão – O governador Rui Costa… Eu não gosto de comentar erros. Ele teve uma série de acertos. Poderia ter tido mais. Poderia ter tido mais, por exemplo, nessa área de infraestrutura. A educação poderia ter sido mais… bem mais. Nós estamos agora, em um trabalho da Seplan e da SDE, implantando a primeira escola de irrigação do Brasil. O Brasil tem 17,3% da água doce do planeta e não tem uma escola de irrigação. Estamos fazendo a primeira. E já estão começando a segunda lá em Santana dos Brejos, na margem do Rio Corrente. Estamos analisando uma em Ibotirama, analisando outra em Paratinga. É isso que precisamos para desenvolver o Vale do São Francisco, o Vale do Rio Grande e o Vale do Rio Corrente. Pra quê? Pra quê? Para que a população de baixa renda que mora nessas regiões sejam capacitadas, melhoradas e que passem a ter um uma vida melhor. Que passem a ter produtores.

Tribuna – Na sua avaliação qual a principal carência do Estado hoje que vai ficar de desafio para o próximo governador?
João Leão – A principal carência do estado é educação.  Eu estava conversando com o Neto, propondo a ele, que na educação a gente faça um convênio muito grande com o SENAI, com o SIMATEC, para você trazer uma educação de qualidade para toda a Bahia. E você pegar a experiência do SENAI e transformar o estado da Bahia num nível que as escolas do SENAI têm.

Tribuna – Como é que o senhor avalia as condições, de acordo com a sua experiência, do candidato posto pelo PT, Jerônimo Rodrigues?
João Leão – Gente boa. Jerônimo é uma pessoa boa. Agora, não está preparado para ser governador da Bahia. Não tem ainda a experiência necessária. Nasceu candidato a governador do estado. Rui Costa foi secretário disso, secretário daquilo, foi chefe da Casa Civil e tal. E outra coisa, Rui Costa tem um vice da zorra. Eu ficava me empurrando as coisas. ‘Vamos fazer a Ponte Salvador-Itaparica?’; ‘Vamos fazer a Ponte da Barra?’; ‘Vamos fazer uma PPP na BA-052?’; e assim sucessivamente. Ficava empurrando o jogo.

Tribuna – Agora eles estão com essa questão de encontrar um vice na chapa? O senhor acha que faltam nomes?
João Leão – É um negócio impressionante: ninguém quer ser vice [de Jerônimo]. Ao lado de ACM Neto você tem 50 pessoas doidas para ser vice. De Jerônimo ninguém quer ser vice. Por quê?

Tribuna – Do lado de Neto agora têm nomes cotados para a vice, que foram aliados do governador Rui Costa, como Félix Mendonça Jr., Marcelo Nilo…
João Leão – Tem Zé Ronaldo, tem um bocado. Uma cacetada.

Tribuna – Qual é a sua avaliação, seu sentimento, do momento em relação à disputa presidencial? O senhor acha que vai ser uma disputa polarizada entre Lula e Bolsonaro?
João Leão – Acho que vai ser bastante polarizada. No Brasil hoje, pela maneira que Bolsonaro está crescendo, vai ser uma disputa bastante polarizada. Seis meses atrás eu dizia que Lula ia ganhar essa eleição com 50% ou 60%, no primeiro turno. Agora eu digo que vai ser uma disputa bastante polarizada.

Tribuna – O presidente do PT, Éden Valadares, soltou uma nota dizendo que o senhor foi de alguma forma ingrato, após ter sido muito bem tratado ao longo desses anos… O senhor pretende responder isso na campanha?
João Leão – Rapaz, meu couro é grosso. Não quero bater em ninguém. Agora, não bata em mim, não. Eu vou responder presidente do PT? Não quero entrar em briga. Gosto muito dele… Tive uma amizade sempre boa com ele. Sempre o tratei muito bem. Agora o problema é que o povo acha que fazer política é bater nos outros. Política do bate-boca, do esculhambar, do não sei o quê, falar disso ou daquilo, não é do meu feitio.

Tribuna – Estamos caminhando para o final da entrevista. Gostaria de deixar um recado?
João Leão – Não tenho mais nada para colocar. O que eu estou querendo é paz.  O que eu quero é levar amor para a Bahia, eu não quero levar discussão de bater no governo Rui Costa, bater em Jaques Wagner… Como estão nos batendo. Agora, quem bate, se prepare para apanhar amanhã.

TRIBUNA DA BAHIA

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