EUA acusam China de querer ajudar Putin na guerra da Ucrânia

Guerra na Ucrânia

por Igor Gielow | Folhapress

EUA acusam China de querer ajudar Putin na guerra da Ucrânia

Foto: Reprodução / NBC News

Os Estados Unidos informaram a seus aliados na Europa e na Ásia que a China sinalizou desejar de dar apoio econômico e militar à Rússia durante a guerra na Ucrânia.
 

A informação foi vazada de forma anônima a jornalistas em Washington, uma tática comum, e não foi comentada oficialmente por nenhuma autoridade. O aviso americano teria ocorrido por meio de telegramas diplomáticos nesta segunda (14).
 

O vazamento dá sequência a outro, feito ao jornal New York Times no domingo, segundo o qual a Rússia havia pedido a ajuda aos seus aliados chineses. Nesta segunda, tanto Pequim quanto Moscou negaram a hipótese.
 

Para o Kremlin, a Rússia está em plenas condições de atingir seus objetivos no país vizinho. Já a chancelaria chinesa acusou Washington de tentar criar intrigas com “objetivos sinistros” entre Pequim e o resto do mundo.
 

Não é possível saber o grau de veracidade da informação. Que haja uma disposição chinesa de auxiliar economicamente Vladimir Putin, cujo governo está sob as mais duras sanções econômicas da história moderna, não parece impossível -ao contrário.
 

Mas até aqui a ditadura liderada por Xi Jinping tem lidado com cautela extrema a crise na Ucrânia. Não condenou a guerra do aliado, mas tem insistido em uma solução negociada e pacífica, colocando-se como mediadora possível.
 

É uma modulação de tom. Em dezembro, quando o Ocidente já via risco de invasão ao ver Putin concentrar militares em torno do vizinho, Xi disse a Putin numa videoconferência que os dois países tinham de se aliar para reagir conjuntamente contra pressões do Ocidente, o nome genérico do clube liderado pelos EUA e que inclui países orientais, como Japão e Austrália.
 

Em 4 de fevereiro, 20 dias antes de a guerra começar, Putin fez sua primeira viagem internacional após a pandemia e participou da abertura dos Jogos de Inverno de Pequim. Assinou uma declaração de “amizade eterna” com Xi, ratificando sua entrada como parceiro da China na chamada Guerra Fria 2.0 vivida pela segunda maior economia do mundo contra a primeira, os EUA.
 

Enquanto a análise detida dos termos mostrava que não se tratava de uma aliança militar, e na realidade uma peça que atendia mais os interesses chineses, a percepção de que Xi poderia vir em socorro financeiro a Putin está na pauta ocidental desde o começo da guerra.
 

Nesta segunda, o assessor de Segurança Nacional do governo de Joe Biden, Jake Sullivan, encontrou-se em Roma com o principal diplomata do Politburo chinês, Yang Jiechi. Não se sabe ainda o teor da conversa, mas na véspera o americano havia dito que haveria “severas consequências” se a China ajudasse Moscou a furar o bloqueio das sanções.
 

Se a questão econômica sugere que a parceria pode ser posta a teste, a militar não é tão clara. Como disse o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, parece claro que a Rússia consegue manter seu esforço de guerra atual. Por mais que haja dificuldades relatadas em solo na Ucrânia, não há muita lógica em pensar que os russos precisem de algum tipo de insumo agora.
 

Claro, desconta-se aqui a possibilidade de uma guerra ampliada com outros membros da Otan que levasse a China a ter de tomar partido do aliado, até por exclusão e pela experiência pregressa em coordenação militar, no seu quintal estratégico do Indo-Pacífico. Mas aí o tema é guerra mundial.
 

Não de forma casual, os EUA e seus aliados do Quad (Japão, Austrália e Índia), grupo criado para conter a assertividade chinesa naquela região, já se alertaram que Pequim não deveria achar que Taiwan seria uma nova Ucrânia, em referência à atividade militar em torno da ilha autônoma que a ditadura considera sua.
 

No cenário colocado, a cautela chinesa tem a ver com o fato de que ela tem muito mais a perder se for confrontada com um regime draconiano de sanções do que Moscou. A lógica reversa é igual: a interdependência com o Ocidente fez a China tornar-se parte central das cadeias globais de produção. Daí que a pressão americana pode ser só isso, uma pressão.
 

Ao fim, Pequim ainda pode lucrar muito com uma Rússia mais fraca politicamente e dependente de si para sobreviver, abrindo as vastas reservas de petróleo e gás que hoje abastecem a Europa para o Oriente. Isso também ajuda a entender a discrição de Xi até aqui.
 

O que se desenrola é um drama de proporções planetárias, com provável efeito nas relações de Pequim com o resto do mundo daqui para a frente, independentemente do resultado da guerra na Ucrânia.

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