O grupo de candidatos a deputado federal chamados de puxadores de voto caiu 78% nestas eleições, em comparação com 2018. Apenas quatro conseguiram apoio suficiente não só para se eleger, mas para puxar colegas de partido menos votados para a Câmara. Há quatro anos, foram 18.
No último domingo (2), o vereador de Belo Horizonte Nikolas Ferreira (PL) se tornou o campeão de votos no país, com 1.492.047 votos, o suficiente para reservar, só com esse número, mais seis cadeiras para o PL.
Isso possibilitou, por exemplo, que o ex-ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antônio (PL) conseguisse a última vaga de deputado federal por Minas mesmo tendo apenas 31.025 votos, menos da metade de Fábio Ramalho (MDB), que teve 77.604 – mas mesmo assim ficou de fora.
Isso ocorre porque o sistema eleitoral brasileiro distribui as vagas no Legislativo com base na soma dos votos válidos dados aos candidatos do partido ou federação, não pela ordem de votação nominal em cada estado da federação.
Ou seja, um candidato muito bem votado tende a puxar colegas com poucos votos, mesmo havendo concorrentes de outros partidos que tiveram melhor resultado.
Depois de Nikolas, os outros três puxadores de voto de 2022 foram de São Paulo: Guilherme Boulos (PSOL), com 1.001.472 (que puxou mais 2 candidatos do partido), Carla Zambelli (PL), com 946.244 (também dois) e Eduardo Bolsonaro (PL), com 741.701 (que puxou mais um).
O filho do presidente Jair Bolsonaro (PL) havia sido o mais votado em 2018, com 1,8 milhão de votos. Assim como agora, a lista de puxadores de voto de quatro anos atrás também sofreu forte influência do bolsonarismo. Além de Eduardo, os dois nomes seguintes da lista surfaram a onda de direita que levou Bolsonaro ao poder: Joice Hasselmann (SP) e Helio Lopes (RJ), também conhecido como Helio Bolsonaro.
Joice rompeu com o bolsonarismo durante o mandato e tentou se reeleger, mas despencou de mais de 1 milhão de votos para pouco mais de 13 mil e não conseguiu renovar o mandato. Helio perdeu cerca de dois terços dos votos, mas conseguiu se reeleger com cerca de 133 mil votos.
Outros nomes da lista de super votados de 2018 também sofreram reveses, como Flordelis, que teve o mandato cassado após ser denunciada pelo Ministério Público como mandante da morte do marido.
Marcelo Álvaro Antônio também figurou entre os puxadores de voto de 2018, ocasião em que encabeçou a lista dos eleitos em Minas. Ele foi o pivô do esquema das candidaturas laranjas revelado pela Folha.
Outro que saiu da lista dos campeões de voto é um velho conhecido dela, o ator Tiririca. Ele não conseguiria se eleger se o PL não mantivesse os votos excedentes de Eduardo Bolsonaro. O ator teve neste ano 71.754 votos, bem distante da marca de 1.353.820 alcançada em 2010, ano em que conquistou o primeiro mandato
Outros puxadores de voto de 2018 tentaram cargos diferentes do de deputado, mas não se elegeram, como Marcelo Freixo (PSB) e Alessandro Molon (PSB), que não conseguiram as vagas de governador e senador pelo Rio, respectivamente.
Em 2018 os puxadores de voto conseguiram 42 vagas a mais para a Câmara. Neste ano foram 11.
FOLHAPRESS