Levando em considerações as pesquisas recentes, ACM Neto (União), que lidera as intenções de voto, pode ser o primeiro governador da Bahia a não apoiar um presidente “eleito” no estado desde 2006. Além disso, no campo do legislativo, o candidato ao Senado, Otto Alencar (PSD), pode quebrar um “jejum” de 50 anos e ser eleito senador mesmo não estando na mesma chapa que o governador, caso Neto vença as eleições, algo que não acontece na Bahia desde a década de 1960.
Após 16 anos, os baianos podem eleger um governador que declarou apoio ao presidente eleito. O último candidato que conseguiu vencer as eleições nestas condições foi Paulo Souto (2002-2006), que venceu a disputa eleitoral de 2002 contra Jaques Wagner (PT), no qual era apoiador do então candidato à presidência, e eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
O cientista político e professor da Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), Claudio André de Souza, explica que ACM Neto pode estar se beneficiando de uma “despolarização nacional”, com uma mudança na estratégia nestas eleições. Ele também citou, por exemplo, a vinda de aliados da chapa do PT, como João Leão (Progressistas), que é vice-governador de Rui Costa (PT), para o campo político de Neto.
“A construção como liderança nessas eleições se deu por uma despolarização nacional, o antipetismo de ACM Neto observado em outras eleições passou por uma desconstrução na sua estratégia para as eleições deste ano. A estratégia estabelecida foi trazer aliados do ex-presidente Lula para o seu grupo político, mas ao mesmo tempo não há um palanque para um alinhamento nacional de Neto com algum candidato a presidência”, afirmou André.
O postulante ao Palácio de Ondina já declarou por diversas vezes que não terá uma preferência em relação às eleições presidenciais, chegando a afirmar que tem “direito a não ter um candidato”. Em 2018, o ex-prefeito de Salvador chegou a declarar apoio a Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno , mas, recentemente, revelou estar insatisfeito com o governo.
André explica que um posicionamento de ACM Neto neste momento, poderia causar uma “virada” nas intenções de voto, visto que o candidato possui uma base eleitoral que é lulista aqui na Bahia. Contudo, o cientista também afirma que é uma estratégia “arriscada”, pois o estado vem preferindo por governadores petistas nos últimos anos.
“A gente tem um eleitorado tardio, em uma reta final de mais ou menos duas semanas, e a gente sabe que isso pode causar uma virada, pois ele [Neto] tem eleitores que são lulistas. Na pesquisa Genial/Quaest isso já foi detectado, 60% dos votos lulistas estão indo para ACM Neto. Essa despolarização é arriscada, porque ele arrisca diante de um eleitorado que tem votado no PT. Rui Costa teve mais votos que Fernando Haddad na Bahia, por exemplo”, explicou o cientista.
SENADO
Podendo quebrar “jejum”, o candidato à reeleição no Senado Otto Alencar, caso eleito, será o primeiro senador a se eleger na Casa Legislativa não estando na mesma chapa que o governador, contando que ACM Neto vença a disputa estadual. O fato nunca ocorreu na Nova República Brasileira, iniciada em 1985. Na Bahia, Otto compõe a chapa petista do candidato Jerônimo Rodrigues (PT), que atualmente está em segundo lugar nas pesquisas.
Claudio André explica que no Brasil, tradicionalmente, se elege o senador seguindo a linha política do voto para governador, sendo alinhado a chapa política. Contudo, o especialista explica que, por conta do período da pandemia, Otto ganhou projeção nacional após a CPI da Covid, na qual o senador ganhou grande repercussão.
“Tradicionalmente no Brasil o comportamento eleitoral do eleitorado do nosso país é de votar no senador que foi apoiado pelo governador. Então o voto para o Senado, em geral, está muito alinhado à chapa, a quem se elegeu ao governo estadual. Acontece que o trabalho do PSD, o trabalho na liderança de Otto Alencar e também a sua projeção nacional, em especial, agora diante do que foi esse período da pandemia, com todos os debates envolvendo a comissão que ganhou repercussão nacional, pode influenciar uma parte do eleitorado sim”, explicou André.
PESQUISAS
De acordo com o último levantamento do BN/Paraná Pesquisas, Otto Alencar (PSD) lidera a corrida eleitoral pelo Senado na Bahia com 31,8% das intenções de voto. Em relação a disputa para governador, ACM Neto levaria a vitória nas eleições no primeiro turno, acumulando 52,9%% das intenções de voto, segundo pesquisa do mesmo local.
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